41- Minha Infância

O corpo de meu avô estatelado sobre a cama touxe-me sua lembrança em vida, da forma como apresentou o campo colhendo uma melancia e apontando para o resto do roçado, explicando coisas que minha imaturidade ficava perguntando o tempo todo o que significaria aquele monte de palavras.
- Como eu queria comer melancia agora! Sentir o vento e ouvir as palmeiras se rebatendo.

Naquele dia, pela primeira vez sentei no lombo de um cavalo mas logo desci, queria mesmo era sentir o capim passando sobre os meus pés, e não entendi por que estava tão molhado se não havia chovido na madrugada, a curiosidade de criança fez meu avô explicar o que é orvalho, achei essa palavra tão bonita que passei uns três dias repetindo.

Nunca tinha visto o sol nascer como aquele dia, eu tinha 7 anos, mas ainda recordo como o vovô me acordava através da sua ladainha na oração matinal das 04:30 da manhã e dos sussuros ao conversar com minha avó, aquele era o momento em que os dois analisavam o percurso que cada filho, neto, bisneto ganhava ou topava e em seguida continuava caminhando.

Eu sempre acordava descalça e sentava na mesa para escutar aquelas leituras, mas por vezes preferiam passar a leitura para mim, pois gostavam da minha interpretação e também a visão já não ajudava muito.

Nesse dia depois de voltarmos do campo, onde fomos na tentativa de achar um gado perdido, o vovô havia se preparado para sentenciar a morte de um animal, ele adorava reunir muita gente e para isso tinha que alimentar a todos, no final acabava virando uma grande festa em família.

Eu nunca tinha visto alguém matando um porco, mas diferentemente das minhas primas e irmãs que sairam com medo, cheguei mais próximo, queria saber o processo até chegar a mesa, e alguem havia me dito que um animal como aquele havia os mesmos órgão de um ser humano, mas um pouco diferente. Chorei. Deu um nó na garganta tão grande, mas depois ajudei a tratar do porco com uma intimidade tão grande, que parecia já conhecer todos os procedimentos.

Cansei, e sai correndo pra carregar todo mundo pro riacho. Mas antes, passava no quintal da Mãe Noca escondida pra pegar siriguela e um negocim que quebravamos e virava corante, era parte dos nossos ingredientes para a confecção dos artigos de cosméticos, pois as rosas eram machucadas e misturadas com alcoool e água e guardadas em conservas que na realidade não passava de vidros de perfumes secos que saiamos colhendo pelas casas.

Como era bom se jogar no riacho, pulando de um toco que pareceia tão alto. Na volta saia catando pelo chão frutas caídas. Tudo não passava de uma grande brincadeira. Opa! Espera. Chegamos na subida da ladeira, quanta poeira. Como eu tinha medo de subir aquela ladeira na hora em que o gado estivesse descendo, principalmente quando estava vestida de vermelho. Minha tia sempre dizia que o boi podia ficar bravo e sair correndo atrás de quem usava vermelho. Hoje, poucas pessoas entendem porque começo a rir do nada.

Comemos o porco, na realidade comi pouco, menos que o de costume. Menino sempre dá trabalho pra comer. Eu lembrava o tempo todo do meu avô dando porretada no porco e de mim ajudando a tratar o porco, interrompi o almoço perguntando se eu havia virado assasina por causa disso, todos riam da minha inoscencia, mas para mim era tão complexo e tão importante uma explicação, só me responderam que não. Passei mais de um mês pra esquecer a morte do porco.

Jaqueline Bezerra (Jaque)

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Exposição: Antonio Júnior

Num passeio pelos Interiores

Partes do Interior

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Foto: Antonio Júnior

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