Eu queria ter capacidade para entender de que ponto viemos e a que ponto chegaremos! Nossa passagem é tão estreita, e tento passar por esse estreitamento deixando ao máximo possível produtividades, e por mais que minha intenção seja um tanto positiva, vejo-me na maioria das vezes como um ponto boiando no meio de uma multidão.
Andando pelas ruas de São Luiz pude ter essa sensação de forma mais próxima, e juro que me interrogava sobre as milhares de histórias que teriam transitado por ali. Coisas do tipo: - Como deveria ser o comportamento das pessoas? Como deveria ser os rostos das negras e negros que poderiam estar cruzando comigo se tivesse o dom de voltar ao ínicio do séc XVIII ou XIX? Sobre o que conversariamos? Que idéias estavam culminando naquele momento? O que os artistas estariam conversando com os filósofos? E os portugueses onde estariam? Os holandeses? E os índios?
Quantas inquietações me cercam!
Tomei a liberdade de tentar reproduzir cenas antigas, e o que me vinha a cabeça era a forma como tudo devia ser articulado, pois a forma rústica talvez dê a idéia de esclerosamento, pois hoje nossa moda digital permite que os sessenta minutos que passou seja visto como um mês, quem dirá um ano. As coisas estão sublimando. Também senti raiva por imaginar que poucos deviam ter acesso aos vãns livros. Seriam esses os "donos das idéias"? Bom, é certo que muitos idealizadores deviam ser obrigados a esconder suas filosofias em prol de uma não repressão. Repressão essa que não mudou até hoje, porém temos uma maior liberdade para questionar a não aceitação de nossas idéias. Correto?
Em minhas andanças por aquela cidade, algumas passagens soou como uma afronta. Como também muitas concederam o atiçamento a criações e correntes ideológicas, e é lógico que as companhias foram os principais instrumentos para todas estas sensações produtivas.
Agora prefiro fazer uma pausa pra falar o que realmente chamou-me a atenção. Fiquei
chocada com o número de placas promovendo as "negações"! Não entendeu, não é? Vou explicar.
Estava eu na parte histórica da cidade quando voltei a uma cachaçaria que foi batizada de farmácia por alguns amigos. E eu como sempre, fui rever a farmácia e experimentar os novos sabores não concebidos ao meu paladar...tomarindo, gengibre, maça, goiba, pitomba, pessego, limão...quanto mais eu bebia, quanto mais não me saia da cabeça as palavras cravadas na placa: "Proibido tirar fotografias, é tão feio quanto cuspir no chão"...até aí tudo bem. Cada individuo tem uma ou várias formas de expressar seus desejos, está aí a vantagem da propriedade particular. E ainda mais se ela lhe serve de marketing.
O que não me entrou na cabeça foi eu ter sido explusa do "bar" por chingamento. Por chingamento? Não tinha nada escrito na placa sobre chingamento! Concluimos que na rua em que reside uma cachaçaria e que tem como vizinhos uma boca de fumo e um prostibulo, e que a dona não é mulher do prefeito e nem é a Roseana Sarney, é PROIBIDO CHINGAR! Tem algumas mediocridades que não me entra na cabeça.
Fomos parar no Reviver, onde o balançado das negras e som dos tambores me atraia como um imã, aquele ritmo me esquenta o sangue, e me propõem delírios vocálicos que trombam com as consonantais de tal forma que espoca o derretimento de frases queimadas pelo piscar dos meus olhos inquietos no acompanhamento intencional de absorver todas as sensações.
Que infantil de minha parte! Querer sentir e consumir todas as energias boas que me cercava e agora querer descrever o episódio da cachaçaria sem qualquer ruído...talvez você esteja detestando minha descrição, até porque quantas coisas críticas estão ocultas. Minha intenção é só descrever conforme meus dedos bailam pelo teclado....até parece que eles têem vida própria..
No dia seguinte, eu crente que a cena da farmácia seria isolada por falta de maiores explicativos nas placas, e que a história a ser contada aos meus netos só iria até essa placa...advinhem!
Episódio II, o retorno.
Fomos a um famoso bar localizado num mercado, onde todo e qualquer pensar ligado a musicalidade MPB, lá tem: "Leo". Leo é o nome do bar, e eu não poderia sair de lá sem ter o que falar do LEO. Para a minha lembrança, na hora em que ponho o pé no LEO, advinhem com o que me deparo? Um pequeno informativo contendo:
- PROIBIDO DANÇAR.
Sempre disse aos meus amigos que tenho medo do silêncio e das palavras. Agora acho que estou começando a ter medo de placas. A do Leo vocês estavão esperando a minha expulsão novamente, né isso? Mas não, não fui expulsa, agora uma coisa é certa, fiquei com receio de chegar no bar seguinte e ter uma placa dizendo: - Proibido beber!
Já imaginou se essa moda de placas proibitivas pegar!? Já pensou se o Robert Rios resolve lançar essa moda aqui em Teresina!
Só não iria achar ruim se tivesse uma placa no pé do ônibus dizendo: - Proibido subir!
Eu queria ficar mais um pouquinho em Sããããooo Luiz do Maranhão...como diria meu caro safoneiro pernambucano Luiz Gonzaga.
Jaqueline Bezerra (Jaque)